segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ana Carolina - Problemas


Quase Nada - Zeca Baleiro




De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei

Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho

Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso

Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo

Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

Pedaço de mim - Chico Buarque e Zizi Possi


Tanta Saudade - Zizi Possi


Mambembe - Chico Buarque e Roberta Sá


Chopin - Nocturne Op.55 No.2


Porquê Tocou Meu Coração (KISS) By DJGummer - Ráh


domingo, 26 de fevereiro de 2012

Alison Balsom - Italian Concertos


In the Bleak Midwinter - Trumpet Tune - Tine Thing Helseth



Tine Thing Helseth, 24, started to play the trumpet at the age of 7, and is one of the leading trumpet soloists of her generation. Highlights of last season included orchestral debuts with the Gavle Symphony, NDR Hannover, BBC Scottish, Royal Liverpool Philharmonic, Swedish Chamber and Swedish Radio Symphony Orchestras as well as making her recital debut at the Carnegie Hall, New York, and further recital debuts in Berlin, Brussels and Luxembourg. She also gave her first performance at the Royal Albert Hall as part of Classic FM Live.The 2011/2012 season will see her return to the Royal Liverpool Philharmonic and Danish Radio orchestras, and make debuts with the Australian Chamber Orchestra, the Orchestre Philharmonique de Monte Carlo, Stuttgart Philharmonic Orchestra, NDR Hamburg, Kollegium Winterthur Orchestra, the Symfonieorkest Vlaanderen Orchestra and Hong Kong Sinfonietta.In April 2011 Tine signed an exclusive recording contract with EMI Classics. She will release two albums this season; a solo disc with RLPO, Storyteller and the debut album of her brass ensemble, tenThing. She has also recorded two discs for Simax, the first of which was named “Classical Recording of the Year” in 2007 by the Norwegian newspaper Aftenposten, and the second which went to ‘gold’ in the Norwegian classical chart after just three weeks.In recognition of her outstanding performing abilities Tine has been the recipient of various awards including the 2009 Borletti-Buitoni Trust Fellowship, “Newcomer of the Year” at the 2007 Norwegian Grammy Awards (the first classical artist ever to be nominated), second prize in the 2006 Eurovision Young Musicians Competition, the Luitpold Prize as the most outstanding and interesting young artist of the year at the Kissinger Summer Festival, and the prestigious Prince Eugen’s Culture Prize in Stockholm. Date Last Edited: 18th August 2011

Tine Thing Helseth - Rachmaninov: Zdes' khorosho


Jason Mraz - I Won't Give Up [Official Music Video]


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Tudo está à venda > Fátima Quintas

Em uma de suas últimas entrevistas, em novembro de 2008, Lévi-Strauss (antropólogo belga, falecido em novembro de 2009, aos 101 anos) afirmou não pertencer mais à humanidade numerosa dos nossos dias. O teor das suas palavras traduz uma lucidez extraordinária, o que me leva a refletir sobre o excesso populacional de um mundo em crise, acometido de profunda recessão moral. Falo isso porque no período de final de ano, percebo-me solta diante de uma multidão que caminha não sei bem para onde. Rostos fervilham nas lojas, nos shoppings, nos passeios, nos restaurantes... em todos os lugares públicos. E rostos apressados, ruborizados pelo vaivém, angustiados em vencer os obstáculos, maratonistas na corrida ao pódio.

O trânsito enlouquece, carros buzinam, motoristas se irritam, há um nervosismo geral que me convida a não sair de casa e a enredar-me no quarto de estudo — isolamento opcional. Gosto de gente. Mas de gente que me afague, que me toque com ternura, que agregue sentimentos comuns. Não gosto de multidões anônimas. Amedrontam-me as massas compactas, as mãos burilando regalos e mais regalos, as faces ansiosas na premência de adquirir bens materiais, sacolas cheias de “sonhos” adquiridos em lojas de vitrines sedutoras ou mesmo em lojas comuns. Os sonhos comprados são baratos demais para satisfazer a humanidade. Seja qual for o preço, tornam-se viáveis bagatelas.

Os valores mudaram, meu caro Machado de Assis, os Natais não mudaram. Os homens se metamorfosearam, alumbrados diante do que é venal, eufóricos em abarcar o mundo de qualquer forma. Sonho e felicidade se vulgarizaram, mercadoria de fácil acesso. Vale apenas negociar o preço do produto. A estrutura financeira oferece em módicas prestações mensais o tamanho do seu desejo. Tudo está à venda.

Pois é, tudo está à venda. Talvez este seja o lema maior do capitalismo selvagem. Em consequência, a mediocridade se instala, resultando numa derrocada que começa com a ausência do raciocínio crítico, com o desdém pela elite pensante e com a inversão grosseira dos modelos estéticos. O mundo banal é um mundo em que as emoções estão à venda; a ética está à venda; a integridade está à venda. Em qualquer esquina, sem grandes especulações. Do varejo ao atacado.

Onde fica a dignidade neste mar turbulento, pleno de ilusões e de falsas alegorias? Tenho medo da célere passagem das horas, da vulgaridade transformada numa terrível bola de neve que desce ladeira abaixo, indiferente aos que se recusam a engrossar suas fúteis e inexpressivas camadas.

O medo cresce. Reajo. Jamais capitulo. Necessito de forças para evitar ruínas interiores. Não quero o disfarce do superficial, assim como não quero admitir a idéia de que tudo está à venda. Não quero e nem posso enganar-me em nome da identidade primeira. Urge fortalecer a essência de mim mesma. Os homens esqueceram dos postulados morais num mundo cuja concentração populacional embaça as individualidades. Nesse jogo perverso, será que a disseminação do exótico-grotesco reverterá em fato corriqueiro? Hannah Arendt já alertava para o perigo da banalização do mal.

Não me perguntem por que resolvi falar nessas coisas num período repleto de aparentes cortesias. Tais questionamentos surgiram nos engarrafamentos dos finais de tarde na Avenida Rosa e Silva. E na Avenida Rui Barbosa. E na Dezessete de Agosto... Aqui ou alhures a humanidade sofre as mazelas da decadência. O pior é que o excesso populacional, anestesiado pela frívola rotina, não permite apreender os graves malefícios de uma sociedade em pleno colapso espiritual.

Noturno - Mário Quintana

De noite todos os meus pensamentos são escuros
E todas as palavras têm a letra "u"
Rude
Virtude
Cruzes!
Até mesmo, Bandeira, teu "sapo-cururu da beira do rio"!
Não me digam que o melhor é acender todas as luzes!
Odeio a luz elétrica e todas as luzes artificiais.
A gente repousa na escuridão como num ventre maternal.
E o melhor enredo para isso tudo
É me atirar de súbito num açude
Seco!

DANILO CAYMMI " MARINA MORENA "


Il Divo - Regresa A Mi (Unbreak My Heart)


Il Divo - Adagio


Uudam - Mother in the dream - 梦中的额吉



Uudam é um jovem cantor da Mongólia 13 de anos. Ele foi finalista do "Talento da China Got"com esta canção dedicada à sua mãe que ele perdeu aos 8 anos de idade.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ausência - Carlos Drummond de Andrade

Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Il giardino armonico - dir. Giovanni Antonini


O ciclo reinicia-se, surgimos novamente!!


Novamente, o ciclo está se reiniciando.
Desta vez, sem a agonia
Não por não amar
Amei intensamente, por pouco tempo.
Não houve necessidade de lidar com a ausência novamente
Nem será necessário lidar com a decepção
Pois já sei como superá-las

Posto tóxico > Para ninguém, alguém ou você mesmo


Guerra de egos
Inveja, despeito 
Jogos de influência 
Política mesquinha 
Sorrisos falsos
Ambiente peçonhento 
Perfeita miniatura da sociedade hipócrita, ou seja: o submundo no qual você vive.

Os votos > Sergio Jockymann



“Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
“Isso é meu”
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar

E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar”

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Delírios Mudos > Alex Rodrigues


Sentado do lado seu
Ouvindo promessas e dívidas
Me encho de dúvidas reprimidas
Em um corpo sedento por te ter

Comento poemas e canções perdidas
Odisséias de heróis esquecidos
Cito nomes que nunca foram ditos
Faço isso, entre sussurros e gemidos.

Quando penso que não posso mais
(Afinal não deveria)
Tuas mãos me acariciam
Teus lábios me propiciam
Me sentir entre os imortais

Me esqueço de quem eu sou
De quem era
Ou o que seria
Ofegante em ti respiro
E transpiro-ti em um mar de beijos

Ainda penso enquanto escrevo
Em quão belo será o dia
Em que na mais bela euforia
Clamaremos para o tempo
Que ele esqueça-se de nós

Sentindo tua pele sobre a minha
Olhos cerrados, de quem dormia
Navegando num mar de suor
Fazendo em teus cabelos um nó
Pra um só amor atar

E de manhã ainda acordar
Embevecido de tanto prazer
Sentindo teus braços me envolver
Convidando-me com um só olhar
Pra outra vez diante de Eros
Sentindo a música mais bela
Profanado por teus lábios
E no corpo não mais sozinho
preenchê-lo de carinho e novamente...
Te amar.


Alex Rodrigues

Jean Baptiste Maunier et Clémence - Concerto pour deux voix


Bach - BWV 1067 Suite - Badinerie - Croatian Baroque Ensemble


J.S.Bach - Concerto for Oboe, Strings and Continuo in D minor (1/2)


Vivaldi - Viola d'Amore Concerto in D Minor RV540 - Mov. 1/3


Vivaldi - Oboe Concerto in D Minor RV454


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Vanessa da Mata: "As Palavras"


O que me importa > Marisa Monte > Maria, Maria, Maria...





O que me importa
Seu carinho agora
Se é muito tarde
Para amar você...

O que me importa
Se você me adora
Se já não há razão
Prá lhe querer...

O que me importa
Ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis
Você nem mesmo soube dar
Amor!...

O que me importa
Ver você chorando
Se tantas vezes
Eu chorei também...

O que me importa
Sua voz chamando
Se prá você jamais
Eu fui alguém...

O que me importa
Essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais
Tristezas prá chorar
Que o seu!...

O que me importa
Ver você tão triste
Se triste fui
E você nem ligou...

O que me importa
Seu carinho agora
Se para mim
A vida terminou
Terminou! oh! oh! oh!
Terminou! oh! oh! oh!
Oh! oh! oh!...

Melissa Venema plays live Haydn


Josef Haydn: Trompetenkonzert Es-Dur - I

The Coronation of King George II, 1727 - The Crowning

Lully - Fanfare pour le Carrousel Royal

Jean Baptiste Lully (1632-1687) - Marche pour la cérémonie des Turcs

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Händel: Alla Hornpipe

Quando Men Vo” – La Bohème – Anna Netrebko St. Petersburg Philharmonic Orchestra Yuri Temirkanov & Nikolai Alekseev

Abrir de Olhos > Laura Riding



Pensamento dando para pensamento 
Faz de alguém um olho. 
Um é a mente cega-de-si, 
O outro é pensamento ido 
Para ser visto de longe e não sabido. 
Assim se faz um universo brevemente.

A suposição imensa nada em círculos, 
E cabeças ficam mais sábias 
Enquanto notam a grandeza, 
E a dimensão imbecil 
Espaça a Natureza,

E ouvidos reportam primeiro os ecos, 
Depois os sons, distinguem palavras 
Cujos sentidos chegam por último ─
Vocabulários jorram das bocas 
Como por encanto. 
E assim falsos horizontes se ufanam em ser 
Distância na cabeça 
Que a cabeça concebe lá fora.

O maravilhar-se, que escapa dos olhos, 
Regressa a cada lição. 
O tudo, antes segredo, 
Agora é o conhecível, 
A vista da carne, a grandeza da mente.

Mas e quanto ao sigilo,
Pensamento individido, pensando
Um todo simples de ver?
Essa mente morre sempre instantaneamente
Ao prever em si, de repente demais,
A visão evidente demais,
Enquanto lábios sem boca se abrem
Mundamente atônitos para ensaiar
O verso simples e impronunciável.

MY CREATIVE METHOD - Francis Ponge

Sidi-Madani, quinta-feira, 18 de dezembro de 1947

Sem dúvida não sou muito inteligente: em todo caso as idéias não são o meu forte. Sempre fui iludido por elas. As opiniões mais bem fundamentadas, os sistemas filosóficos mais harmoniosos (os mais bem constituídos) sempre me pareceram absolutamente frágeis, me provocaram uma certa repugnância, vazio na alma, uma penosa sensação de inconsistencia. Não me sinto de modo algum seguro das proposições que lanço durante uma discussão. As que me são opostas parecem-me quase sempre igualmente válidas; digamos, para sermos exatos: nem mais nem menos válidas. Posso ser convencido, desarmado com facilidade. E quando digo que posso ser convencido: trata-se, senão de alguma verdade, pelo menos da fragilidade de minha própria opinião. Além do mais, o valor das idéias parece-me na maioria dos casos em razão inversa ao ardor empregado para expô-las. O tom da convicção (e mesma da sinceridade) é adotado, assim me parece, tanto para convencer-se a si mesmo quanto para convencer o interlocutor, e mais ainda talvez para "substituir" a convicção. De qualquer modo, para substituir a verdade ausente das proposições emitidas. Eis o que sinto de modo bem forte.
Assim, as idéias como tal parecem-me aquilo de que sou menos capaz, e não me interessam mesmo. Vocês me dirão sem dúvida que aqui há uma idéia (uma opinião)... mas: as idéias, as opiniões me parecem dirigidas em cada um de nós por algo que não o livre-arbítrio ou o juízo. Nada me parece mas subjetivo, mais epifenomenal.
Não compreendo muito que as pessoas se jactem delas. Eu acharia insuportável que se pretendesse impô-las. Querer apresentar sua opinião como válida objetivamente, ou em termos absolutos, parece-me tão absurdo quanto afirmar por exemplo que os cabelos louros cacheados são mais "verdadeiros" que os cabelos pretos lisos, o canto do rouxinol mais perto da verdade que o relincho do cavalo. (Em compensação sou bastante propenso à formulação e talvez tenha algum dom para ela. "Eis o que você quer dizer..." e em geral obtenho daquele que falava a concordância com a fórmula que lhe proponho. Este é um dom de escritor? Talvez.)
Caso um pouco diferente é o do que chamarei de constatacões; digamos, se preferirem, as idéias experimentais. Sempre me pareceu desejável que houvesse um entendimento, senão quanto às opiniões, pelo menos quanto a fatos bem determinados, e se isso ainda parece muito pretensioso, pelo menos quanto a algumas definições sólidas.
Talvez fosse natural que com tais disposições (desgosto pelas idéias, gosto pelas definições) eu me dedicasse ao recenseamento e à definição em primeiro lugar dos objetos do mundo exterior e entre eles daqueles que constituem o universo familiar dos homens de nossa sociedade, em nossa época. E por quê, me objetarão, recomeçar o que foi feito em várias oportunidades e bem estabelecido nos dicionários e enciclopédias? Mas, responderei, por que e como é que existem vários dicionários e enciclopédias na mesma língua na mesma época e que suas definições dos mesmos objetos não são Idênticas? Sobretudo, como é que no caso parece estar mais em questão a definição das palavras que a definição de coisas? Por que posso ter essa impressão, para dizer a verdade bastante extravagante? Por que essa diferença, essa margem inconcebível entre a definição de uma palavra e a descrição da coisa que essa palavra designa?
Por que as definições dos dicionários nos parecem tão lamentavelmente desprovidas de concreto e as descrições (dos romances ou poemas, por exemplo) tão incompletas (ou muito particulares e detalhadas, ao contrário), tão arbitrárias, tão temerárias? Não poderíamos imaginar uma espécie de escritos (novos) que, situando-se mais ou menos entre os dois gêneros (definição e descrição), tomariam emprestados do primeiro sua infalibilidade, sua indubitabilidade, sua brevidade também, do segundo seu respeito pelo aspecto sensorial das coisas...

( Trad: Júlio Castañon Guimarães)

Era - Ameno > Kátia Carvalho - Campina Grande

Era- The Mass - Kátia Carvalho - Campina Grande

The Corrs - Rain

Celtic Mystic 09 Highland dance

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Jane Birkin et Serge Gainsbourg - Je T'aime,...Moi Non Plus

Charles Aznavour - Mourir d'aimer


Les parois de ma vie sont lisses
Je m'y accroche mais je glisse
Lentement vers ma destinée:
Mourir d'aimer

Tandis que le monde me juge
Je ne vois pour moi qu'un refuge
Toutes issues m'étant condamnées:
Mourir d'aimer

Mourir d'aimer
De plein gré s'enfoncer dans la nuit
Payer l'amour au prix de sa vie
Pêcher contre le corps mais non contre l'esprit

Laissant le monde à ses problèmes
Les gens haineux face à eux-mêmes
Avec leurs petites idées:
Mourir d'aimer

Puisque notre amour ne peut vivre
Mieux vaut en refermer le livre
Et plutôt que de le brûler:
Mourir d'aimer

Partir en redressant la tête
Sortir vainqueur d'une défaite
Renverser toutes les données:
Mourir d'aimer

Mourir d'aimer
Comme on le peut de n'importe quoi
Abandonner tout derrière soi
Pour n'emporter que ce qui fut nous, qui fut toi

Tu es le printemps, moi l'automne
Ton coeur se prend, le mien se donne
Et ma route est déjà tracée:
Mourir d'aimer,
Mourir d'aimer,
Mourir d'aimer.

Chico Buarque - Medo de amar (Vinícius de Moraes

Emmerson Nogueira - Africa

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Quando chega uma carta tua > Sigmund Freud



Quando chega uma carta tua todas as divagações acabam, e acordo para a vida. Todos os problemas estranhos deixam de ter importância, os misteriosos quadros de doenças se desvanecem, e acabam-se as teorias vazias «de acordo com o estado presente da ciência», como elas são chamadas. Então o mundo fica tão acolhedor, tão alegre, tão fácil de compreender. A minha doce querida não é uma ilusão, ela não tem que ser comprovada por testes químicos; de facto ela pode ser observada a olho nú. Ainda bem que ela não tem nada a ver com doenças – e espero que continue – excepto por ter sido suficientemente imprudente para tomar um médico para amante. Oh Marty, é muito mais gratificante ser um ser humano em vez de um armazém de certas experiências monótonas. Mas ninguém se pode permitir a ser um ser humano por uma hora a não ser que tenha sido uma máquina ou um armazém por onze horas. E aqui chegámos, onde começamos. 

Carta de Sigmund Freud a Martha Bernays, 9 de Outubro 1883 (excerto)

J. S. Bach - Cantata BWV 78 (instrumental)

BAROQUE TRUMPET TUNES (Handel Purcell Clarke Charpentier Mouret)


1. Charpentier: Prelude from "Te Deum"
2. Clarke: Trumpet Voluntary
3. Purcell: Trumpet Tune
4. Mouret: Rondo form Suite de Symphonies
5. Handel: Trumpet Concerto in D minor

Esta Velha Angústia - Álvaro de Campos


Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

BOA NOITE!! > ATÉ OS PRÓXIMOS POST's... Hélio Diógenes Cambuí

Fantasmas e espelhos > Hugo Giazzi Senhorini


Os fantasmas não se olhavam em espelhos.

Vagavam pelos grandes corredores, pelas grandes salas e quartos, pelos jardins, flutuando em seus sofrimentos ininterruptos. O sofrimento dos mortos presos ao mundo dos vivos é perene, assim como, às vezes, o sofrimento dos vivos por alguns mortos. Mas, eles sabiam, não havia dor pior do que a do espelho. Um fantasma que visse seu reflexo atrás da película de vidro imploraria por mais uma morte.

Ninguém, vivo ou morto, jamais teve coragem de fuçar as escrituras, fazer experiências, tentar rituais ou banimentos que explicassem ou que curassem aquele fenômeno horrendo.

Quando algum dos fantasmas errava os caminhos de sua macabra peregrinação entre os espaços do casarão e eventualmente se encontrava com o grande espelho da antiga matriarca - o único que não pôde ser destruído pelas almas penadas -, os gritos de desespero eram ouvidos a longas distâncias. E para os outros fantasmas era até possível sentir um pouco da dor daquele espírito torturado por sua própria imagem, porque sabiam, por experiência própria ou por força de lenda, que aquela dor estava penetrando aquela alma com a maior agudeza do universo. Os ouvintes dos berros, se tivessem corpos, se arrepiariam.

Sempre que os fantasmas presenciavam alguma morte e podiam instruir algum pobre espírito novato, o Grande Aviso era este mesmo: “Nunca olhe para um espelho, fuja da possibilidade de ver seu reflexo”. Era como uma lenda universal que todos sabiam ser verdadeira. Os fantasmas não se olhavam em espelhos.

Às vezes, alguns vivos se encorajavam dentro dos territórios assombrados da grande mansão. Alguns pretendiam tomar e reformar o lugar para viver (pretensões sempre frustradas), outros, principalmente jovens, adentravam o escuro só pelo vibrar dos nervos. Em uma dessas aventuras, uma criança presenciou o encontro de um fantasma com seu reflexo. O garoto viu o espírito contorcer-se, gritando, como se estivesse sendo queimado por sua própria visão, como se um pequeno inferno estivesse tocando-o, vindo do outro lado do vidro. A alma urrava, e o sofrimento era exalado, como vapor, naquele quarto. O espírito evaporou numa nuvem de choro e agonia depois de minutos de tortura. A criança nunca mais falou sequer uma palavra em sua vida, e nunca mais sorriu. Seus olhos, até hoje, são mais apegados a uma visão desfocada para o horizonte do que a qualquer outra.

Os fantasmas não se olhavam em espelhos. Os reflexos lhes mostravam todos os seus mais porcos defeitos, suas maldades escancaradas, suas cicatrizes abertas, suas frustrações, suas máscaras quebradas, suas dívidas pendentes. Um choro constante, imortal. Os fantasmas não se olhavam em espelhos. Nunca suportariam. Sabiam que as almas, ao contrário do belo receptáculo de carne humano, são horríveis.

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Celtic Woman 17.- Orinoco Flow

A Roda da Vida - Janne Alves de Souza in Obvious



As horas voam, os dias passam, os anos se vão. O tempo, senhor da vida, segue, narcísicamente, sua marcha inefável em favor de si próprio. Segue em círculos na roda da vida, em que estamos todos nós que existimos, onde toda a existência está a dançar a dança do tempo. Tudo que existiu sempre existirá. Na roda da vida não há morte capaz de destruir a existência. A morte é apenas um ser que tira-nos do corpo a alma. Transforma seres animados em seres inanimados, sem alma. Na roda da vida nada morre, apenas move-se do seu lugar, transforma-se. O que antes era, já foi, não é mais. Mas não se pode dizer que não voltará a ser. Nunca se sabe. Quem saberá quando termina a dança do tempo na roda da vida? Terá fim? Quem poderá dar fim ao movimento transformador da dança do tempo na roda da vida?

Na roda da vida tudo passa, inclusive nada. Passam os dias e as horas, a lua e as estrelas, passa o mar, passa o céu e a terra, passa você e eu e todo mundo. Todas as coisas passam com o tempo, em par. Algumas passam com o vento, algumas passam com desalento. Algumas com sofrimento. Outras não passam nem com intento, nem co'a angústia, nem com juramento. Mas todas passam com o tempo. Será este nosso alento, que todas as coisas passem com o tempo? Até mesmo a saudade, a dor e o sofrimento? Fiz-me, a tempo, um juramento: jamais voltaria a dançar na roda da vida com o tempo. Tudo que existe em mim não passaria, então, com o tempo. O tempo passa fora de mim, mas dentro de mim não passa o tempo. Dentro de mim não passa o vento, não passa a angústia, a dor e o descontentamento. Não passa nem mesmo a vida, a saudade, tu, e o sofrimento. Dentro de mim não passa o tempo. Estou suspensa da roda da vida, não passo, eu, com o tempo.

Saí da roda da vida, deixei de dançar a dança do tempo para que você não passe. Tive medo de que você passasse, de que passasse tudo que encontrei na dança do tempo na roda da vida. Parei de dançar, deixei a roda da vida para não passar tudo que vivi, tudo que senti. Agora, não passa a dor com o tempo, não passa a saudade, não passa a angústia, não passa a aflição. Não passa você, não passa ninguém, não passa nada. O vazio não passa. A vida não passa. Nem a morte passa, não passa o tempo... as ruas não passam... nem o sol, o céu, o mar, o vento. O amor não passa, não passa a amizade. Nada passa. Anseio voltar à roda da vida e dançar a dança do tempo. Mas tenho medo de que tudo passe com o tempo. Passará o medo com o tempo também se eu voltar à roda da vida e dançar a dança do tempo? Passará a vida, a morte, o medo? Tudo passará? Certamente, eu passarei.



ALeia mais: http://lounge.obviousmag.org/megalomaniaca/2012/02/a-roda-da-vida.html#ixzz1luMi4Laz

Angústia - Rodrigo Della Santina in Obvious



Eu não suporto ver uma impossibilidade
Olhar-me nos olhos austera e fixamente
Como se o meu desejo fosse incoerente
E me servisse muito mais a realidade

Cotidiana de que se serve toda a gente.
Ora, o meu talento é a expressão da honestidade
Em que Deus se meteu ao criar a humanidade.
Não pode ser portanto aquele incoerente.

Mas descubro que o é. E o que acontece em mim,
Dentro de mim, comigo, é uma explosão total
E esquizofrênica da realidade em si:

O vergastar do vento muda a direção
Do meu desejo... E o que ora me resta, afinal,
É só para eu poder não me esquecer de mim.

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Demissível - Rodrigo Della Santina in Obvious


Às vezes tenho ganas de matar a fera,
Que, como o fogo, ruge e se sacode inteira

Dentro aqui do meu ser intemporal. Eu quero,
Às vezes, num assomo de angústia, desespero,

Esquecer das minhas páginas em branco e andar,
Andar por uma via menos dura: achar

No corredor da consciência humana o som,
A minha voz reverberando outra canção.

Mas o meu coração é um soluçar discreto,
Um tique-taque eterno pendurado num prego

Duma parede do meu ser intemporal
Que, para respirar, sufoca, esgana o mal,

Arranca-o pela raiz. E essa realidade
Ressurgente, uma propaganda da verdade,

Convence-me a seguir em frente, sempre em frente...
O tempo... O tempo é o meu amor inteligente.
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