Eis o que um compositor escreveu a seu patrocinador, um banqueiro que era também príncipe:

[louvemos] os tempos mais belos, e infelizmente passados, em que um príncipe aparecia como protetor de um artista, mostrando à plebe que a arte, um assunto de príncipes, está além do julgamento do povo comum.

Trata-se de uma carta de Arnold Schoenberg, escrita em 1924, para o príncipe Egon von Furstenberg, que dava dinheiro para um festival de música contemporânea.

O mesmo Schoenberg entusiasmara-se com o início da Guerra de 1914, que serviria, no seu entender, para impor uma lição aos entusiastas de Bizet, de Stravinsky e de Ravel:

Reduziremos, agora, esses defensores do kitsch à escravidão e lhes ensinaremos a venerar o espírito germânico e o Deus alemão.

A primeira citação eu tiro da monumental História da Música Ocidental,de Richard Taruskin, e a segunda de O Resto é Ruído, de Alex Ross.

Claro que as opiniões políticas de um compositor não validam ou invalidam a qualidade de sua música. Mas então seria o caso de não condenar –como se faz alegremente nos meios “avançados”—a música de Carl Orff ou a maneira de reger de Herbert von Karajan.

O fato é que o “progressista” Schoenberg, sempre adorado pela esquerda nos passos do que escreveu Theodor Adorno, sai-se um bocado mal nesses dois livros, que refletem um grande esforço “revisionista” no que diz respeito à história musical do século 20.

Não se trata mais, como se fazia até os anos 1970, de defender um progresso linear na música, privilegiando sempre quem representasse a vanguarda mais radical. Quanto mais “modernistista”, mais de vanguarda, melhor –o critério de qualidade se tornava fácil de seguir, inclusive para quem não fosse músico ou para quem fosse totalmente surdo; é o que, em matéria de poesia, se viu na influência dos concretistas –que também davam suas opiniões sobre “Música radical”, “música de invenção”, etc. Leonard Bernstein, um esquerdista, era assim “de direita” porque ainda escrevia alguma coisa tonal. Felizmente esse patrulhamento vai sumindo.