terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Riso - Poema - Afonso Duarte.

Tive o jeito de rir, quando menino, 
Até beber as lágrimas choradas: 
Com carantonhas, gestos, desatino, 
Passou a nuvem e os pequenos nadas. 




A rir de escuridões, de encruzilhadas, 
Tornei-me afeito logo em pequenino; 
Porque ri é que trago as mãos geladas, 
E choro porque ri do meu destino. 

Vivi de mais num mundo idealizado 
Comigo só: E só de mim descreio 
Entornava-me riso a luz em cheio 

Quando o meu mundo foi principiado; 
Rio agora que não sei donde me veio 
Sempre o mal que me trouxe o bem sonhado. 

Afonso Duarte, in "Ossadas"

Il Divo - Isabel

sábado, 24 de dezembro de 2011

Encontro de Natal - Meimei -



Recolhes as melodias do Natal, guardando o pensamento engrinaldado pela ternura de harmoniosa canção.

Percebes que o céu te chama a partilhar os júbilos da exaltação do Senhor nas sombras do mundo.

Entretanto, misturada ao regozijo que te acalenta a esperança, carregas a névoa sutil de recôndita angústia, como se trouxesses no peito um canteiro de rosas orvalhado de lágrimas!...

É que retratas no espelho da própria emoção o infortúnio de tantos outros companheiros que foram inutilmente convidados para a consagração da alegria. Levantaste no lar a árvore da ventura doméstica, de cujos galhos pendem os frutos do carinho perfeito, entretanto, não longe, cambaleiam seguidores de Jesus, suspirando por leve proteção que os resguarde contra o frio da noite; banqueteias-te, sob guirlandas festivas, mas, a poucos passos da própria casa, mães e crianças desprotegidas, aguardando o socorro de Cristo, enlanguecem de fadiga, e necessidade; repetes hinos comovedores, tocados pela serena beleza que dimana dos astros, entretanto, nas vizinhança, cooperadores humildes do Mestre, choram cansados de penúria e aflição; abraças os entes queridos, desfrutando excesso de conforto, contudo, à pequena distância, esmorecem amigos de Jesus, implorando que Ihes dê a benção de uma prece e o consolo de uma palavra afetuosa, nas grades dos manicômios ou no leito dos hospitais...

Sim, quando refletes na glória da Manjedoura, sentes, em verdade, a presença do Cristo no coração!

Louva as doações divinas que te felicitam a existência, mas não te esqueças de que o Natal é o Céu que se reparte com a Terra, através do eterno amor que se derramou das estrelas.

Agradece o dom inefável da paz que volta, de novo, enriquecendo-te a vida, mas divide a própria felicidade, realizando, em nome do Senhor, a alegria de alguém!...

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Espírito da Verdade. Ditado pelo Espírito Meimei. FEB.

Vangelis & Vanessa Mae ~ Roxanne`s Veil

Phantom of the Opera (Vanessa Mae Violín)

Celtic Woman - When You Believe

Celtic Woman - The Call - Feliz Natal!!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Adulação na Amizade - Marcus Cícero

Pois que é próprio da verdadeira amizade dar e receber conselhos, dá-los com franqueza e sem azedume, recebê-los com paciência e sem repugnância, persuadamo-nos bem de que não ha defeito maior na amizade que a lisonja, a adulação, as baixas complacências. Com efeito, não se poderia dar bastantes nomes ao vício desses homens frívolos e enganadores, que falam sempre para agradar, e jamais para dizer a verdade. 
A dissimulação é funesta em todas as coisas (pois corrompe e altera em nós o sentimento da verdade) mas é, sobretudo, contrária à amizade. Destrói a sinceridade, sem a qual não subsiste mesmo o próprio nome da amizade. Se a força da amizade consiste em fazer de várias almas uma só, como seria assim, se em cada homem a alma não é a mesma, não é constante, mas variável, mutável, tomando mil formas? De facto, que há de mais mutável, de mais versátil que a alma daquele que se transforma não apenas segundo o sentimento e a vontade dum outro, mas a um pequeno sinal deste, a um mínimo gesto seu? «Ele diz não? Eu digo não; ele diz sim? eu digo sim: numa palavra, eu me impus a obrigação de tudo aplaudir», como disse Terêncio, sobre a máscara de Gnathon. Seria inconcebível leviandade ter relações com gente desta espécie.
Mas encontram-se muito Gnatons mais possantes pela linha, pela fortuna e pelo crédito; e tanto mais perigosos são estes lisonjeadores, pois a sua autoridade faz pesar as suas lisonjas mentirosas. Entretanto, com atenção, pode-se distinguir o verdadeiro amigo do lisonjeador, tão facilmente quanto se distinguem as coisas fantasiadas e artificiais das que são naturais e verdadeiras. Uma assembléia pública, composta de multidão ignorante, sabe reconhecer a diferença que existe entre o homem frívolo, adulador do povo, e o homem grave, constante, severo. 

Marcus Cícero, in 'Diálogo sobre a Amizade'

A Dissimulação da Identidade - Blaise Pascal

Não nos contentamos com a vida que temos em nós e no nosso próprio ser: queremos viver na ideia dos outros uma vida imaginária e para isso esforçamo-nos por manter as aparências. Trabalhamos incessantemente para embelezar e conservar o nosso ser imaginário, e descuramos o verdadeiro. E se temos ou a tranquilidade, ou a generosidade, ou a felicidade, apressamo-nos a apregoá-lo, a fim de atribuir estas virtudes ao nosso outro ser, e se fosse preciso estararíamos prontos a despojar-nos delas para as juntar ao outro; de bom grado seríamos cobardes para adquirirmos a reputação de valentes. 
Grande sinal do nada que somos, não nos contentarmos de uma coisa sem a outra, e trocarmos muitas vezes uma pela outra! Pois quem não morresse para conservar a sua honra seria infame. 

Blaise Pascal, in "Pensamentos"

Luísa - Antônio Carlos Jobim - Intérprete: Chico Buarque

Se eu morrer antes de você - Chico Xavier

domingo, 18 de dezembro de 2011

Poema da Gratidão de Amélia Rodrigues

Dos amantes - mi delirio, la luz, juntos,

Toni Braxton - Spanish Guitar - Tudo de bom...

The Corrs - Dreams [Official Video]

Alizée - La Isla Bonita

Exilados de Capela - Emmanuel



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

As Desvantagens das Nossas Paixões - Cesare Pavese - 1908/1950


Quanto mais um homem se emaranha numa paixão, tanto mais os acontecimentos, em si indiferentes, se traduzem para ele em dor, enganando justamente, pela sua indiferença, a avidez tensa em que esse homem se encontra. Um ambicioso sofrerá porque uma pessoa célebre não lhe reconheceu importância; essa mesma pessoa célebre tentará insuflar escrúpulos de tentação a algum evangélico de quem procurará a conversação; escrúpulos que, por sua vez, irritarão um individualista, que será atingido por eles, malgrado seu. A inveja, ambição ruminada, está na base de todas as angústias que sofremos. Não toleramos que uma coisa aconteça indiferentemente, por acaso, escapando à nossa chancela.

Qualquer gênero de fervor acarreta consigo a tendência para sentir uma lei preestabelecida na vida, uma lei que castiga os que abusam ou descuram esse mesmo fervor. Um estado de paixão - mesmo que fosse a embriaguez da absoluta autodeterminação - organiza e anima de tal forma o Universo que toda a desgraça, parece, depois, provocada por uma ruptura do equilíbrio vital dessa paixão difusa, que, assim, se defende como um corpo vivo. E, segundo o temperamento de cada um, teremos a sensação de que abusamos, ou de que fomos inferiores; de qualquer forma, sentir-nos-emos organicamente punidos pela própria lei da paixão e do Universo. 
O que quer dizer que todo o fervor acarreta consigo a convicção supersticiosa de ter de prestar contas à própria lógica das coisas. Mesmo o fervor de um ateu pela transcendência de uma lei. 

Cesare Pavese, in "O Ofício de Viver"

VELHA INFÂNCIA - EU GOSTO DE VOCÊ, MARIA {Tribalistas}

Djavan - Te devoro Maria

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Shivaree - Goodnight Moon - Kill Bill

Kill Bill - Inesquecível

Ennio Morricone - ''The Good, The Bad and The Ugly''. ( Live in Venice )

Enya - Fairytale - "The Celts"

Maná - Amor Clandestino - Sem palavras, Maria!!!





Eres inevitable amor
Casi como respirar,
Casi como respirar.

Llegué a tus playas impuntual
Pero no me rendiré:
Soy tu amor clandestino,
Soy el viento sin destino
Que se cuela en tu faldas mi amor,
Un soñador, un clandestino
Que se juega hasta la vida mi amor,
Clandestino. Amada, amada amor.

No, no no no

Mi amor clandestino en el silencio, el dolor
Se nos cae todo el cielo de esperar.
Inevitable casi como respirar
Se nos cae todo el cielo
De tanto esperar.
Clandestino.

El universo conspiró inevitable corazón,
Clandestino eterno amor.

Pero me duele no gritar tu nombre en toda libertad,
Bajo sospecha hay que callar.

Y te sueño piel con piel,
Ahogado en besos y tus risas amor.
Y me hundo en el calor
Que hay en tus muslos, en tu mar,
Llorando en silencio, temblando tu ausencia,
Rogándole al cielo y finjiendo estar muy bien.

No, no no no

Mi amor clandestino en el silencio, el dolor
Se nos cae todo el cielo de tanto esperar.
Inevitable caasi como respirar,
Se nos cae todo el cielo
De tanto esperar.
Clandestino.

No te engañes más, ya no te mientas,
Si aire ya pasó, ya pasó.
Y verdad ya no tengas miedo,
Sólo tu mantienes mi respiración.

Hace tanto que yo esperaba al viento, amor.
Cae el llanto del cielo de esperar.
Hace tanto que yo esperé tu luz, amor.
Ay amor, ay amor, ¡Ay amor!

Se nos cae todo el cielo,
Se nos cae todo el cielo de tanto esperar.
Mi amor ya no te engañes,
No te mientas corazón
Se nos cae todo el cielo,
Entiéndelo amor.

Mana - Labios Compartidos - Idem!!!



Amor mío
Si estoy debajo del vaivén de tus piernas
Si estoy hundido en un vaivén de caderas
Esto es el cielo, es mi cielo.

Amor fugado
Me tomas, me dejas, me exprimes y me tiras a un lado
Te vas a otro cielo y regresas como los colibris
Me tienes como un perro a tus pies

Otra ves mi boca insensata
Vuelve a caer en tu piel
Vuelve a mí tu boca y provoca
Vuelvo a caer de tus pechos a tu par de pies

Labios compartidos
Labios divididos, mi amor
Yo no puedo compartir tus labios
Y comparto el engaño
Y comparto mis días y el dolor
Yo no puedo compartir tus labios
Oh amor, oh amor
Compartido

Amor mutante
Amigos con derecho y sin derecho de tenerte siempre
Y siempre tengo que esperar paciente
El pedazo que me toca de ti
Relampagos de alcohol
Las voces solas lloran en el sol
Mi boca en llamas torturada
Te desnudas ángel hada, luego te vas

Otra vez mi boca insensata
Vuelve a caer en tu piel de miel
Vuelve a mí tu boca, duele
Vuelvo a caer de tus pechos a tu par de pies

Labios compartidos
Labios divididos, mi amor
Yo no puedo compartir tus labios
Que comparto el engaño
Y comparto mis días
Y el dolor
Ya no puedo compartir tus labios
Que me parta un rayo
Que me entierre el olvido, mi amor
Pero no puedo más
Compartir tus labios
Compartir tus besos
Labios compartidos

Te amo con toda mi fe sin medida
Te amo aunque estés compartida
Tus labios tienen el control

Te amo con toda mi fe sin medida
Te amo aunque estés compartida
Tus labios tienen el control
Y sigues tu con el control, control...

Jason Mraz - Bella Luna - Maria mi amore!!!



Mistério da lua
Um buraco no céu
Uma sobrenatural luz noturna
Tão plena, mas geralmente correta
Um par de olhos, dos mais íntimos
Um criança escolhida no sol dourado
Um cão petrificado que persegue carros
Para alcançar a mais longínqua das praias, muito além de um mar nadante

O cósmico peixe que eles gostam de beijar
Dando a luz à constelações
Sem acordes e sem restrições
Se elas cairem você tem direito a um desejo ou dedicação
Posso sugerir-lhe o melhor
Que é nada mais nada menos que você e eu
Vamos dar uma chance, enquanto cresce esse romance, antes que percamos a luminosidade
Ah, Bella Bella, por favor
Bella você linda luna
Oh bella faça o que for
Faça

Você é uma âncora iluminante
De ligas de número infinito
De rebentões de maré de trovões destruidores
Vazando a maré em fluxos de ardente desejo
Você está dançando nua para mim
Você expõe todas as recordações
Você faz a maior parte das marcações
Você é o fantasma da corte impondo amor
Você é a rainha e o rei combinando tudo
Entrelaçada como um anel ao redor do dedo, de uma garota
Eu sou apenas um cantor, você é o mundo
Tudo o que posso trazer-te
É a linguagem de um amante
Bella Luna, minha linda linda lua
Como você me desfalece como nenhum outro

Posso sugerir-lhe o melhor
dos seus desejos posso insistir
que não se conteste por pouco de você ou menos de mim
Uma maior chance, juntos, mas todos podem mentir
quanto à origem, quanto a margem de nossas vidas
Bella, por favor
Bella, você, linda lua
Oh, Bella faça o que for
Bella Luna
Minha linda, linda lua
Como você me desfalece como nenhuma outra.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Chuva - Francisco José Lahmeyer Bugalho - Descanso de minh'alma



Chuva Chuva, caindo tão mansa, 
Na paisagem do momento, 
Trazes mais esta lembrança 
De profundo isolamento. 


Chuva, caindo em silêncio 
Na tarde, sem claridade... 
A meu sonhar d'hoje, vence-o 
Uma infinita saudade. 


Chuva, caindo tão mansa, 
Em branda serenidade. 
Hoje minh'alma descansa. 
— Que perfeita intimidade!... 


Francisco Bugalho, in "Paisagem"

Pablo Neruda - Me gustas cuando callas, recital Alejandro Sans





ME gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma, 
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.



O silêncio não é mudo - João e Diogo Vaz Pinto

sábado, 10 de dezembro de 2011

Shakira - No -



No, no intentes disculparte
No juegues a insistir
Las excusas ya existían antes de ti
No, no me mires como antes
No hables en plural
La retórica es tu arma más letal
Voy a pedirte que no vuelvas más
Siento que me duelas todavia aquí

Adentro
Y que a tu edad sepas bién lo que es
Romperle el corazón a alguién así

No se puede vivir con tanto veneno
La esperanza que me da tu amor
No me la dió más nadie
Te juro, no miento

No se puede vivir con tanto veneno
No se puede dedicar el alma
A acumular intentos
Pesa más la rabia que el cemento

Espero que no esperes que te espere
Después de mis 26
La paciencia se me ha ido hasta los pies

Y voy deshojando margaritas
Y mirando sin mi
Para ver si así te irritas y te vas

Voy a pedirte que no vuelvas más
Siento que me duelas todavia aquí

Adentro
Y que a tu edad sepas bién lo que es
Romperle el corazón a alguién así

No se puede vivir con tanto veneno
La esperanza que me dió tu amor
No me la dió más nadie
Te juro, no miento

No se puede morir con tanto veneno
No se puede dedicar el alma
A acumular intentos
Pesa más la rabia que el cemento

No se puede vivir con tanto veneno
No se puede vivir con tanto veneno

Madredeus - O Paraíso - Maria

Natalie Dessay – “O Zittre Nicht” – Die Zauberflöte (The Magic Flute), de Mozart.

Flamenco Mystico para Maria

"Ave Maria" da Ópera "Otello" Verdi. Montserrat Caballé - Pinturas de Bouguereau

A Grande Transição - Joanna de Ângelis

Nada te perturbe - Santa Tereza D'Ávila




"Nada te perturbe, nada te amedronte
Tudo passa, só Deus não muda.
A paciência tudo alcança
A quem tem Deus, nada falta
Só Deus basta."

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Cura prolongada - Stormy Weather


"O amor é uma doença, cuja cura requer a inoculação do antídoto da decepção, em doses sucessivas, até que o organismo reaja, criando o anticorpo da dúvida. O tratamento pode ser considerado um sucesso quando o organismo passa a resistir aos ataques do amor com os sintomas do cinismo."

Amor, Vida De Mi Vida - Placido Domingo

domingo, 4 de dezembro de 2011

Ressonâncias do Natal - Joanna de Ângelis


Na paisagem fria e sem melhor acolhimento, a única hospedaria à disposição era a gruta modesta onde se guardavam os animais.
Não havia outro lugar que O pudesse receber.
O mundo, repleto de problemas e de vidas inquietas, preocupava-se com os poderosos do momento e reservava distinções apenas para os que se refestelavam no luxo, bem como no prazer.
Aos simples e desataviados sempre se dedicavam a indiferença, o desrespeito, fechando-lhes as portas, dificultando-lhes os passos.
Mas hoje, tudo permanece quase que da mesma forma.
Não obstante, durante aquela noite de céu transparente e estrelado, entre os animais domésticos, em uma pequena baia, usada como berço acolhedor, nasceu Jesus, que transformou a estrebaria num cenário de luzes inapagáveis que prosseguem projetando claridade na noite demorada dos séculos, em quase dois mil anos...
Inaugurando a era da humildade e da renúncia, Jesus elegeu a simplicidade, a fim de ensinar engrandecimento íntimo como condição única para a felicidade real.
O Seu reino, que então se instalou naquela noite de harmonias cósmicas, permanece ensejando oportunidades de redenção a todos quantos se resolvam abrigar nas suas dependências.
E o Seu nascimento modesto continua produzindo ressonâncias históricas, antes jamais previstas.
Homens e mulheres, que tomaram contato com Sua notícia e mensagem, transformaram-se, mudando-se-lhes o roteiro de vida e o comportamento, convertendo-se, a partir de então, em luzeiros que apontam rumos felizes para a Humanidade.

*

Guerreiros triunfadores passaram pelo mundo desde aquela época, inumeráveis.
Governantes poderosos estabeleceram reinos e impérios, que pareciam preparados para a eternidade, e ruíram dolorosamente.
Artistas e técnicos, de rara beleza e profundo conhecimento, criaram formas e aparelhagens sofisticadas para tornarem a Terra melhor, e desapareceram.
Ditadores indomáveis e aristocratas incomuns surgiram no proscênio terrestre, envergando posição, orgulho e superioridade, que o túmulo silenciou.
...Estiveram, por algum tempo, deixando suas pegadas fortes, que tornaram alguns odiados, outros rechaçados e sob o desprezo das gerações posteriores.
Jesus, porém, foi diferente.
Incompreendido, o Cantor do Amor aceitou a cruz, para não anuir com o crime, e abraçou a morte para não se mancomunar com os mortos.
Por isso, ressurgiu, em triunfo e grandeza, permanecendo o Ser mais perfeito que jamais esteve na Terra, como modelo que Deus nos ofereceu para Guia.

*

Quando a Humanidade experimenta dores superlativas, quando a miséria sócio-econômica assassina milhões de vidas que estertoram ao abandono; quando enfermidades cruéis demonstram a fragilidade orgânica das criaturas; quando a violência enlouquece e mata; quando os tóxicos arruínam largas faixas da juventude mundial, ao lado de outros males que atestam a falência do materialismo, ressurge a figura impoluta de Jesus, convidando à reflexão, ao amor e à paz, enquanto as ressonâncias do Seu Natal falam em silêncio: Ele, que tem salvo vidas incontáveis, pede para que tentes fazer algo, amando e libertando do erro pelo menos uma pessoa.
Lembrando-te dEle, na noite de Natal, reparte bondade, insculpe-O no coração e na mente, a fim de que jamais te separes dEle.


* * *

Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos Enriquecedores.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador, BA: LEAL, 1994.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Maria Pages - Firedance

Jose Carreras - "En Aranjuez con tu Amor"

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. 

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)


Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.


O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Adeus - Eugénio de Andrade



Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
 e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

 Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

 Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


(foi mantida a grafia original)

O amor antigo - de Carlos Drummond de Andrade para ..


O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

She - Charles Aznavouz



Procura da poesia - Carlos Drummond de Andrade



PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos. 
Não há criação nem morte perante a poesia. 
Diante dela, a vida é um sol estático, 
Não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. 
Não faças poesia com o corpo, 
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro 
são indiferentes. 
Nem me reveles teus sentimentos, 
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. 
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. 
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. 
Não é música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza 
nem os homens em sociedade. 
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. 
A poesia (não tires poesia das coisas) 
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques, 
não indagues. Não percas tempo em mentir. 
Não te aborreças. 
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, 
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família 
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas 
tua sepultada e merencória infância. 
Não osciles entre o espelho e a 
memória em dissipação. 
Que se dissipou, não era poesia. 
Que .se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras. 
Lá estão os poemas que esperam ser escritos. 
Estão paralisados, mas não há desespero, 
há calma e frescura na superfície intata. 
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. 
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. 
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consuma 
com seu poder de palavra 
e seu poder de silêncio. 
Não forces o poema a desprender-se do limbo. 
Não colhas no chão o poema que se perdeu. 
Não adules o poema. Aceita-o 
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada 
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras. 
Cada uma 
tem mil faces secretas sob a face neutra 
e te pergunta, sem interesse pela resposta 
pobre ou terrível, que lhe deres: 
Trouxeste a chave?

Repara: ermas de melodia e conceito, 
elas se refugiaram na noite, as palavras. 
Ainda úmidas e impregnadas de sono, 
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo