quarta-feira, 24 de abril de 2013

Os girassóis de ontem - Tiago Fabris Rendelli


Não suporto mais essa saudade hasteada em todos os detalhes do meu dia, destrinchando-me com seu anzol afiado.

Quero me livrar das imagens desgastadas que tenho e esquecer dessas muitas mãos sempre ocupadas com fantasmas. Em delírio vou fecundando minhas brechas com esse novo eu que desejo. 

Não tenho terras infecundas, confesso, apenas largadas à traça.

Degusto meu veneno lentamente e caio na vala rasa da razão: é preciso matar a saudade para que uma outra saudade nasça. Primordial é se entregar ao fluxo do tempo, ter o coração seco - traço oco que me sustenta - imprimir ao final um ritmo sem furor, uma prece sem vontade e pastar da grama verde do descaso.

E matar o amor do fruto esperançoso em gerar nova vida. 
E perder de vez a vacina final para essa pandemia de abandono na qual existo.

sábado, 20 de abril de 2013

Olinda - Carlos Pena Filho


"De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
A linha do horizonte.

As paisagens muito claras
Não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
Ou claridade somente.

Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.

Tão verdágua e não se sabe
A não ser quando se sai.
Não porque antes se visse,
Mas porque não se vê mais.

As claras paisagens dormem
No olhar, quando em existência.
Diluídas, evaporadas,
Só se reúnem na ausência.

Limpeza tal só imagino
Que possa haver nas vivendas
Das aves, nas áreas altas,
Muito além do além das lendas.

Os acidentes, na luz,
Não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
Nem há mar, nem céu, nem velas.

Quando a luz é muito intensa
É quando mais frágil é;
Planície, que de tão plana
Parecesse em pé."


PENA FILHO, Carlos (1983). Os melhores poemas. São Paulo, Global Editora.

Abraça-me - Joaquim Pessoa - Portugal



Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes. 

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

The Mad Buckgoat - Ancient Music Of Ireland


Reiki/Music Native


Enya - Fairytale


Nostalgia do Presente - Jorge Luís Borges - A Cifra - Argentina

Naquele preciso momento o homem disse: 

«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.

Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amar

domingo, 14 de abril de 2013

Sinaia Zer-Aviv-Trumpet Lullaby-Leroy Anderson


La flauta mágica en trompeta


Alison Balsom - Neruda Trumpet Concerto in E Flat Major: I. Allegro


L. Boccherini - Complete Guitar Quintets


Bach Concerto for 3 Harpsichords in D minor, BWV1063 / Café Zimmermann


"L'amour c'est comme un jour" de Charles Aznavour-Extrait de nouvel album Nr "5" de Nara Noïan