domingo, 29 de abril de 2012

Tchaikovsky - Lake in the Moonlight


Nirvana > Antero de Quental



Viver assim: sem ciúmes, sem saudades, 
Sem amor, sem anseios, sem carinhos, 
Livre de angústias e felicidades, 
Deixando pelo chão rosas e espinhos; 

Poder viver em todas as idades; 
Poder andar por todos os caminhos; 
Indiferente ao bem e às falsidades, 
Confundindo chacais e passarinhos; 

Passear pela terra, e achar tristonho 
Tudo que em torno se vê, nela espalhado; 
A vida olhar como através de um sonho; 

Chegar onde eu cheguei, subir à altura 
Onde agora me encontro - é ter chegado 
Aos extremos da Paz e da Ventura! 

Antero de Quental, in "Sonetos"

É Preciso Aprender a Amar - Friedrich Nietzsche


Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionômica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele. 
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido. 

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"