terça-feira, 8 de maio de 2012

Jean-Philippe Rameau - Zaïs - Overture


F.B. Conti - David Oratorio Aria 'Agiterò la face dell'odio e del


Vivaldi Opera Tito Manlio ''Non m'affligge il tormento di morte''


Jardim Da Fantasia - De Hélio para Isabela -



"Não estejas longe de mim um só dia, porque como, 
porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.

Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda a fumaça que anda buscando casa venha matar ainda meu coração perdido

Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,
ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto, bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe
que eu cruzarei toda a terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo"

Pablo Neruda

Carta Esboço - Para Isabela


Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de fato,sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer.Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até,um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para refletir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que,afinal, não conseguimos dizer.É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem á comunicação
mais exata de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida,e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atras de si o próprio
ser,como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo.Então, é natural que voltes atras e
me peças:"Vem comigo!", e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia,que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caiem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas.No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exata, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e,por
trás disso, de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de fato, pudesse mudar as cores do céu,do mar,da terra,e do próprio dia em que nos vamos encontrar, que há-de ser um dia azul,de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Nuno Júdice