«Perguntou-me o que é que eu escrevia nos livros. Respondi-lhe que me escrevia a mim. Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridículas: amor, esperança, estrelas, e nas palavras mais belas: claridade, pureza, céu. Transformo-me todo em palavras.» José Luis Peixoto
domingo, 9 de outubro de 2011
CRIATURA - Rodrigo Della Santina
Ergue tua cabeça, criatura,
Sê completa em tua imperfeição!
Descobre teus olhos, tira-lhes as pálpebras que os cobrem, e vê,
[quase que inteiramente, diluindo-se célere, como no
[movimento browniano, a vida miserável ante a ti.
Vê e ajoelha: a miserável és tu.
Ó, criatura, não balbucies,
Não tremas inutilmente os lábios;
Guarda o teu espanto, a tua dor, teu desespero;
Guarda o teu medo e tua vontade de chorar.
Não deixes roupas sujas sobre a cama.
Não deixes sobre a cama roupas sujas.
Limpa tua casa como se a vida fosse justa e tudo no mundo te fosse
[indiferente ou desimportante.
Calça os teus sapatos de trabalhar,
Veste a tua calça de trabalhar,
Põe tua camisa e teu chapéu de trabalhar
E sê como és, ó criatura.
Mas ergue tua cabeça,
Tua cabeça ergue,
Não para sentires orgulho,
Mas para te enojares de ti sabiamente.
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