quarta-feira, 24 de abril de 2013

Os girassóis de ontem - Tiago Fabris Rendelli


Não suporto mais essa saudade hasteada em todos os detalhes do meu dia, destrinchando-me com seu anzol afiado.

Quero me livrar das imagens desgastadas que tenho e esquecer dessas muitas mãos sempre ocupadas com fantasmas. Em delírio vou fecundando minhas brechas com esse novo eu que desejo. 

Não tenho terras infecundas, confesso, apenas largadas à traça.

Degusto meu veneno lentamente e caio na vala rasa da razão: é preciso matar a saudade para que uma outra saudade nasça. Primordial é se entregar ao fluxo do tempo, ter o coração seco - traço oco que me sustenta - imprimir ao final um ritmo sem furor, uma prece sem vontade e pastar da grama verde do descaso.

E matar o amor do fruto esperançoso em gerar nova vida. 
E perder de vez a vacina final para essa pandemia de abandono na qual existo.