sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Espírito Desfaz a Ordem das Coisas > Robert de Musil


O espírito aprendeu que a beleza nos faz bons, maus, estúpidos ou sedutores. Disseca uma ovelha e um penitente e encontra em ambos humildade e paciência. Analisa uma substância e descobre que, tomada em grandes quantidades, pode ser um veneno, e em pequenas doses, um excitante. Sabe que a mucosa dos lábios tem afinidades com a do intestino, mas também sabe que a humildade desses lábios tem afinidades com a humildade de tudo o que é sagrado. O espírito desfaz a ordem das coisas, dissolve-as e volta a recompô-las de forma diferente. O bem e o mal, o que está em cima e o que está em baixo não são para ele noções de um relativismo céptico, mas termos de uma função, valores que dependem do contexto em que se encontram. Os séculos ensinaram-lhe que os vícios se podem transformar em virtudes e as virtudes em vícios, e conclui que, no essencial, só por inépcia se não consegue fazer de um criminoso um homem útil no tempo de uma vida. Não reconhece nada como lícito ou ilícito, porque tudo pode ter uma qualidade graças à qual um dia participará de um novo e grande sistema. Odeia secretamente como a morte tudo aquilo que se apresenta como se fosse definitivo, os grandes ideais, as grandes leis e a sua pequena marca fossilizada, o carácter acomodado. Nada para ele é fixo, nenhum eu, nenhuma ordem; como os nossos conhecimentos podem mudar todos os dias, não acredita em vínculos, e tudo tem o valor que tem até ao próximo acto da criação, como um rosto para o qual falamos enquanto ele se vai transformando com as palavras. O espírito é, assim, o grande artista da contingência, mas ele próprio não se deixa apanhar, e quase somos levados a crer que a ruína é a única coisa que resta da sua acção. Todo o progresso é um ganho no particular e um desmembramento no todo; é um aumento de poder que desemboca num progressivo aumento de impotência, e contra isto não há nada a fazer.

in "O Homem sem qualidade".

House Of The Rising Sun > Bob Dylan


Joan Baez - Diamonds and Rust (original)



I'll be damned 
Here comes your ghost again 
But that's not unusual 
It's just that the moon is full 
And you happened to call 
And here I sit 
Hand on the telephone 
Hearing a voice I'd known 
A couple of light years ago 
Heading straight for a fall 

As I remember your eyes 
Were bluer than robin's eggs 
My poetry was lousy you said 
Where are you calling from? 
A booth in the midwest 
Ten years ago 
I bought you some cufflinks 
You brought me something 
We both know what memories can bring 
They bring diamonds and rust 

Well you burst on the scene 
Already a legend 
The unwashed phenomenon 
The original vagabond 
You strayed into my arms 
And there you stayed 
Temporarily lost at sea 
The Madonna was yours for free 
Yes the girl on the half-shell 
Would keep you unharmed 

Now I see you standing 
With brown leaves falling around 
And snow in your hair 
Now you're smiling out the window 
Of that crummy hotel 
Over Washington Square 
Our breath comes out white clouds 
Mingles and hangs in the air 
Speaking strictly for me 
We both could have died then and there 

Now you're telling me 
You're not nostalgic 
Then give me another word for it 
You who are so good with words 
And at keeping things vague 
Because I need some of that vagueness now 
It's all come back too clearly 
Yes I loved you dearly 
And if you're offering me diamonds and rust 
I've already paid