«Perguntou-me o que é que eu escrevia nos livros. Respondi-lhe que me escrevia a mim. Escrevo-me. Escrevo o que existo, onde sinto, todos os lugares onde sinto. E o que sinto é o que existo e o que sou. Escrevo-me nas palavras mais ridículas: amor, esperança, estrelas, e nas palavras mais belas: claridade, pureza, céu. Transformo-me todo em palavras.» José Luis Peixoto
sábado, 21 de maio de 2011
Da amizade, by Hélio Diógenes Cambuí Alves
Um trecho do belíssimo ensaio de Montaigne, Da Amizade, que trata da amizade e morte de seu melhor amigo, La Boétie.
“...Desde o dia em que o perdi, dia que nunca deixarei de ver como um dia cruel e nunca deixarei de honrar - essa foi vossa vontade, ó deuses! (Virgílio) não faço mais que me arrastar languescente; e os próprios prazeres que se me oferecem, em vez de consolar-me, redobram a tristeza de sua perda. Participávamos a meias de tudo; parece-me que estou roubando sua parte, E decidi que já não devia desfrutar prazer algum, já não tendo aquele que compartilhava minha vida. (Terêncio) Já estava tão afeito e habituado a ser um de dois em tudo que me parece não ser mais do que meio. Já que um golpe prematuro arrebatou-me aquela metade de minha alma, por que eu, a outra metade, continuo aqui, eu que estou desgostoso de mim mesmo e que não sobrevivo por inteiro? O mesmo dia perdeu-nos a ambos. (Horácio) Não há ação nem pensamento em que eu não sinta sua falta, assim como ele teria sentido a minha...”
Michel de Montaigne, Os Ensaios, livro I, editora Martins Fontes, São Paulo, 2002. Da amizade, p. 273 -291
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