sábado, 17 de março de 2012

Como eu não possuo /

by Hélio Cambuí

Como eu desejo a que ali vai na rua, 
tão ágil, tão agreste, tão de amor... 
Como eu quisera emaranhá-la nua, 
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...

Desejo errado... Se eu a tivera um dia, 
toda sem véus, a carne estilizada 
sob o meu corpo arfando transbordada, 
nem mesmo assim - ó ânsia - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante 
sobre o seu corpo de êxtases dourados, 
se fosse aqueles seios transtornados, 
se fosse aquele sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo, 
e vejo-me em destroço até vencendo: 
é que eu teria só, sentindo e sendo 
aquilo que estrebucho e não possuo.

(Mario de Sá Carneiro)

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